GESTÃO COLETIVA,PARTICIPATIVA, AUTO GESTÃO! REALIDADE OU UTOPIA?
No inicio de 2007, inicia-se no Centro Acadêmico Livre de Geografia (CALGEO) da UFES uma nova forma de gestão dessa entidade que é um espaço de organização/articulação dos estudantes e que se fortaleceu ainda mais a partir da realização do Encontro Regional de Estudantes de Geografia – Sudeste (EREGEO-SE) na cidade de Vitória (ES) em Abril do mesmo ano. Essa nova forma de gerir a entidade tinha e ainda tem como meta principal a des-centralização, a des-burocratização, a des-hierarquização desse espaço e de nossas relações pessoais/sociais; no sentido de que esse espaço deve pertencer a todos os estudantes do curso, onde todos podem e devem intervir no mesmo. Não seguimos estatutos ou cartilhas, mas norteamos nossas atividades a partir de princípios. Partimos então do princípio do “faça você mesmo”, porém dentro de princípios de coletividade, e assim procuramos romper com a democracia representativa que está presente nos governos, nos órgão públicos do Brasil e em outras partes do mundo. Rompemos também com o discurso do racionalismo econômico que prega o fim da história e, que a única coisa que nos difere dos outros animais é a racionalidade, negando dessa maneira que somos seres históricos. Não são apenas os governantes e os grandes líderes que constroem/escrevem a história, as bases, o povo, os estudantes também constroem/escrevem sua história. Logo, o CA enquanto entidade de base também escreve sua história, seja dentro da universidade, seja em um nível local, regional ou até mesmo nacional, dependendo da sua escala de atuação.
É importante frisar, que quando falamos em gestão coletiva/participativa, temos que estar aptos a lidar com as diferentes formas de pensar, de agir, de lidar com pessoas que possuem diferentes posicionamentos político-ideológico. Hoje nossa gestão conta com militantes de diferentes posicionamentos políticos, como por exemplo, anarquistas, partidários, membro de sindicato, outros que apenas lutam por melhorias no nosso curso, tem aqueles que ajudam na realização de nossas festas e assim vai. É no convívio com essas diferenças que enriquecemos enquanto verdadeiros cidadãos e enquanto futuros profissionais da ciência geográfica. Já dizia um filósofo italiano, que não me lembro do nome agora, que todo ser humano é dotado de potencialidades, mas as mesmas só afloram no contato com o outro (outridade), no contato com o diferente. Atualmente nosso CA se encontra literalmente de portas abertas – pois arrancamos a porta de nosso CA em função de um “desencontro” e da falta de comunicação da pessoa que estava de posse da chave do mesmo – o que gerou um desentendimento entre os alunos do matutino e do noturno de nosso curso. No entanto, tal fato acabou se tornando um divisor de águas de nossa gestão, pois de certa forma ocasionou alguns resultados positivos, já que o número de estudantes que passaram a freqüentar/construir o CA aumentou e mudou em relação a como era quando entrei na universidade em 2006. A militância em nossa entidade está em fase de renovação, os estudantes do matutino e do noturno estão mais unidos, e quem ganhou com isso foi a Geografia, foi a sociedade e todos nós enquanto membros do CA.
Nesses dois anos de gestão discutimos, brigamos, discordamos, concordamos, acertamos em alguns pontos, erramos em outros, mas sempre procuramos caminhar a partir de nossos pontos de convergência. Conquistamos o direito a ter ônibus pago pela Universidade para nossas aulas de campo (antes os alunos tinham que tirar dinheiro do próprio bolso para pagar o ônibus); aumentamos nossa participação/representação no Conselho Departamental com direito a voz e voto; voltamos a atuar no Movimento Estudantil (ME) de Geografia em âmbito nacional após quase 10 (dez) anos de ausência; realizamos aulas de campo com os calouros como forma de trote alternativo para recepcionar os mesmos; passamos a elaborar o Jornal do CALGEO como um canal de comunicação com os demais estudantes do curso; voltamos a participar de encontros estudantis e profissionais da Geografia, realizamos festas para arrecadamos recursos para tocar nossas atividades, como a aquisição de um computador para o CA com acesso a internet e que fica a disposição dos estudantes. Listei essas conquistas não para enaltecer o nosso discurso como fazem os “políticos tradicionais” mas, para mostrar que é possível obter resultados mesmo com todas as adversidades, mesmo com a diferença presente nas formas de pensar dos membros de nosso CA.
Não temos aqui a pretensão de ser um modelo pronto e acabado de gestão, pois ainda estamos em processo, e como processo não pode haver um fim em si mesmo. Queremos mostrar aqui a importância da vivência, da con-vivência, da experiência que o ME nos possibilita viver/realizar, partindo sempre de princípios e valores diferentes daqueles que estão enraizados na nossa sociedade, como o individualismo, a competitividade, o consumismo e a luta pelo poder. A universidade não deve ser apenas o locus das experiências científicas e metodológicas, que são re-produzidas dentro da sala de aula; mas também deve ser o locus de novas experiências, novas vivências de caráter mais humano e produzindo novos conhecimentos, dúvidas e novas questões, ao invés de re-produzir velhas certezas. É preciso sair mais de dentro da sala de aula e ganhar/conquistar novos espaços, o que nos permite construir um curriculum informal, que vai garantir a nossa vaga numa sociedade diferente da que temos hoje.
Vitória, 24 de Março de 2009.
CENTRO ACADÊMICO LIVRE DE GEOGRAFIA - UFES